sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Bom Dia!

Ora então
bom dia minha gente
sadia!

Aqui vai o meu bom dia enorme
polvilhado em toda a dimensão
da hora verdadeira em que nós somos gente
com toda a força de todos os caminhos.

Bom dia por aí
cheio de beleza de tarefas de alegria
e senso positivo
rigorosamente positivo
tal como este instante de sol que nos abraça
neste bom dia apanágio
neste gesto sempre eterno
corre-corre envolve tudo
no tudo deste bom dia.

Bom dia irmã Salomé
pai João avó Rosária
sorrisos para vocês.

Bom dia rios e pássaros
cidades e matagais
mussocos e estradas de mar.

Bom dia rostos e rostos
palavras gestos e actos
minha sonata de vida
em cada gota de pão.

Bom dia mãe Isabel
mãe do meu reino do mar
bênção do meu procurar
dos meus sons e dos meus muros

Bom dia senhor doutor
Dona Chicha carro grande
servente para o jardim
com uma flor diferente
para cada sol de manhã.

Bom dia meninos de escola
bata branca suja d'óleo
pés descalços na lagoa
correndo minutos e horas
num Dinguir de aventuras
de cajus e tambarinos
Bom dia na palma da mão
na tela dos largos fantasmas
altas casas avessos cheios
fomes frios e sedes
gente toda minha gente
bom dia para vocês
em labaredas de rosas
campos e campos de asfalto
bandeiras astros e cantos
dedos frutos labirintos
chuvas e feras e bruxos
logaritmos e átomos
sonos portas estatutos
esquinas vontades e mitos.

Oh terra da minha gente
ao suor desta manhã
aqui está o meu abraço
que eu grito no canto enorme
do calor do nosso sol
aberto de par em par
ao meu bom dia constante.

Aqui estou eu homem todo
num gesto de amor total
em cada rosto que passa
cheio de pressa em chegar
sem jeito de poder ir
Eu homem músculos barro
palavras e movimento
sangue nervos e vontade
no encontro comum dos sons
da manhã desta cidade
repetindo por aí fora
o meu bom dia de gente!


"João Abel"



Biografia do Autor:
João Abel Martins das Neves
Nasceu em Luanda a 6 de Julho de 1938. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos tem larga colaboração poética publicada em vários jornais e revistas, nomeadamente na revista CULTURA e no jornal A PROVÍNCIA DE ANGOLA, e figura em diversas antologias: Poetas angolanos (1959); amostra de poesia in Estados Ultramarinos n.° 3, Lisboa, (1959); Força Nova, Luanda (1960); Poetas Angolanos, Lisboa (1962); Angola, Poesia 71 - Cancioneiro angolano, Benguela (1971); Poesia de Angola, Luanda (1976); No Reino de Caliban, Lisboa (1977); Cadernos Sol, Luanda (2001/02). É autor de Bom dia (poemas) e Nome de Mulher (poemas)

A sua Voz silenciou-se em Novembro de 2007, o nome do mês com que sempre sonhou e pelo qual lutou.

Um grandeeeeeeeeeeeee abraço para ti, João, meu querido amigo, e um estentóreo, retumbante: Bom Dia!!!

Nocturno

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