quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Miserere"

Perdoai-me, Senhor!
Perdoai-me, que eu não sabia...

No meu palácio
batido por todos os mares de coral,
encastoada em espumas,
e rendas
e européis,
coberta de cetins e de anéis,
no meu palácio de ilusão
onde cantam sereias pela noite dentro,
Senhor!
eu não sabia nada...

Foi preciso que o céu se cobrisse
de nuvens negras,
e a tempestade sacudisse
a solidão dos meus salões,
para que eu, transida de medo,
descesse aos subterrâneos
do meu palácio,
em busca de protecção
e calor

E, nos subterrâneos...
só encontrei dor maior que a minha...
medo maior que o meu...
e loucura,
e suor,
e fome,
e ódio frio,
e revolta surda,
e o cheiro putrefacto dos corpos
que trouxe a maresia...

Ah! perdoai-me, Senhor!
Perdoai-me...
que eu não sabia.

Alda Lara, In. "Poemas"

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