Supunha-se que a leitura da Bíblia podia facilitar a viagem dos africanos do Inferno para o Paraíso, mas a Europa esqueceu-se de os ensinar a ler.
Como a noite, como o pecado, o negro é inimigo da luz e da inocência.
No seu célebre livro de viagens, Marco Pólo fala dos habitantes de Zanzibar. Tinham uma boca muito grande, lábios muito grossos e nariz como o de um macaco.
Caminhavam nus, totalmente negros e para quem de qualquer outra região que os visse acreditaria que eram demônios.Três séculos depois, na Espanha, Lucifer, pintado de negro, trepando numa carroça em chamas, entrava nos pátios das comédias e nos palcos das feiras. Santa Tereza de Jesus, que viveu para combatê-lo, apesar disso nunca pode entendê-lo. Uma vez ficou ao lado e viu um negrinho abominável. Outra vez ela viu que do seu corpo negro saía uma chama vermelha, quando se sentou em cima de seu livro de orações e queimou os textos do ofício religioso.
Uma breve história do intercâmbio entre África e Europa: durante os séculos XVI, XVII e XVIII, a África vendia escravos e comprava fuzis. Trocava trabalho pela violência. Os fuzis punham ordem no caos infernal e a escravidão iniciava o caminho da redenção.
Antes de serem marcados com ferro quente, na cara e no peito, todos os negros recebiam uma boa unção de água benta. O batismo espantava o Demónio e dava alma a esses corpos vazios. Depois, durante os séculos XIX e XX, a África entregava ouro, diamantes, cobre, marfim, borracha e café e recebia Bíblias.Trocava produtos por palavras. Supunha-se que a leitura da Bíblia podia facilitar a viagem dos africanos do Inferno para o Paraíso, mas a Europa esqueceu-se de ensiná-los a ler.
Sem comentários:
Enviar um comentário